Brasil perde quase 5% de vegetação herbácea e arbustiva a cada década

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O Brasil tem uma riqueza natural incomparável, mas também enfrenta um grave problema de desmatamento. Segundo um levantamento inédito do MapBiomas, uma iniciativa que mapeia a cobertura e o uso do solo no país, o Brasil perdeu 16% de sua vegetação não florestal nativa nos últimos 38 anos, o que representa 9,6 milhões de hectares de cobertura vegetal herbácea e arbustiva.

A vegetação não florestal nativa é constituída por plantas de porte pequeno e sem estrutura lenhosa – gramíneas e ervas -, ou com tronco lenhoso fino – arbustos. Embora minoritária e pouco valorizada, essa vegetação é muito importante pela grande diversidade de espécies de plantas e animais que abriga e pelos serviços ecossistêmicos prestados, como a regulação do clima, a conservação do solo e da água, a polinização e a produção de alimentos.

Esse tipo de vegetação está em todos os biomas brasileiros em diferentes formas, como formações campestres, campos alagados e áreas pantanosas e afloramentos rochosos. No total, essa cobertura vegetal ocupa 50,6 milhões de hectares, o que representa 1,4 vezes mais do que o território da Alemanha.

Desmatamento acelerado

O levantamento do MapBiomas revela que o ritmo do desmatamento dessa vegetação é semelhante ao das áreas florestais no país, considerando o mesmo período, ou seja, ela está sendo rapidamente destruída. “Nos últimos 38 anos, o Brasil perdeu 16% de sua vegetação natural não florestal, proporção semelhante à da perda de cobertura florestal [nativa], de 15%”, disse Júlia Shimbo, coordenadora científica do MapBiomas, em nota.

Em termos absolutos, o Cerrado lidera o desmatamento de vegetação herbácea e arbustiva, com 2,9 milhões de hectares suprimidos. Já o Pampa, um bioma bem menor, teve um desmatamento bem próximo em números absolutos: foram 2,85 milhões de hectares entre 1985 e 2022. Mas em termos proporcionais, isso representou a impressionante cifra de 30% de perda da vegetação em relação ao que havia em 1985. O Pampa foi o bioma que mais perdeu essa cobertura vegetal, proporcionalmente.

Os diferentes tipos de cobertura vegetal não florestal, que cobrem os 6% do território brasileiro, são a vegetação predominante no Pantanal e no Pampa. As formações campestres e os campos alagados e áreas pantanosas são os tipos de vegetação herbácea e arbustiva mais abundantes no Brasil, respondendo por 95% do total.

Quais estados com maior vegetação não florestal?

Os estados com maior proporção de vegetação não florestal são o Rio Grande do Sul (26% do território), Roraima (20%) e Amapá (14%). Os que mais perderam esse tipo de vegetação desde 1985 foram o Rio Grande do Sul (3,3 milhões de hectares) e Mato Grosso (1,4 milhão de hectares).

No Pantanal, houve uma transição entre áreas naturais, com aumento de área de vegetação campestre – não florestal –, por causa da redução de campos alagados, áreas pantanosas e superfície de água. As áreas de vegetação não florestal representam 61% das áreas naturais nesse bioma.

“Anualmente, e de acordo com o pulso de inundação na planície, observa-se uma notável transição entre diferentes classes de vegetação herbácea e arbustiva, onde os campos alagados e áreas pantanosas e a água, alagam ou expõem áreas de campos naturais. A conversão dessas áreas naturais em pastagem exótica, nos últimos 38 anos, soma mais de 700 mil hectares”, ressaltou Eduardo Rosa, coordenador da equipe do Pantanal no MapBiomas.

As pastagens exóticas são introduções de espécies de pastagem de capim não nativas do bioma onde foi implementado, muitas vezes originárias de outros países. Por não serem vegetação herbácea nativa, podem causar danos no solo, como a compactação, a erosão e a perda de nutrientes.

A importância da conservação

A vegetação não florestal nativa desempenha um papel fundamental na manutenção da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos. Ela abriga uma grande variedade de espécies de plantas e animais, muitas delas endêmicas, ou seja, que só ocorrem em determinadas regiões. Além disso, ela contribui para a regulação do clima, a conservação do solo e da água, a polinização e a produção de alimentos, entre outros benefícios.

Por isso, é essencial que haja políticas públicas e ações de conservação e recuperação dessa vegetação, que está ameaçada pelo avanço da agropecuária, da mineração, da urbanização e das mudanças climáticas. O MapBiomas defende que é preciso reconhecer o valor e a importância dessa vegetação, que muitas vezes é vista como um obstáculo ao desenvolvimento ou como uma área degradada.

O MapBiomas é uma iniciativa que reúne universidades, organizações não governamentais e empresas de tecnologia para monitorar as mudanças na cobertura e no uso do solo no Brasil. O projeto utiliza imagens de satélite e algoritmos de inteligência artificial para produzir mapas anuais de todo o território nacional desde 1985. O objetivo é fornecer informações confiáveis e atualizadas para apoiar a gestão ambiental, o planejamento territorial e as políticas públicas.

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