Quando Amado, Ariano e Veríssimo se juntaram para narrar a história do “morto golpista”

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Um amigo me alertou e desde então só lembrei de Quincas.

Eliseu disse: “nem o lendário personagem amadiano viveu esta aventura!”

Verdade. E olha que Quincas morreu três vezes, com três mortes distintas.

Mas, nem o realismo mágico de Jorge Amado foi capaz de descrever tamanho surrealismo como a cuidadora que levou tio morto para um “passeio ao banco”.

Aplicar um golpe com um morto como criminoso é muito roteiro até para os maiores ficcionistas distópicos do Globo.

-Assina, tio!

O bichinho é assim mesmo- dizia ela quanto questionada sobre o estado de saúde do defunto, pendurado, dependurado na cadeira de rodas.

E a agente funerária, digo sobrinha,com aquele sorrisinho canalha exibindo os dentes.

É a euforia maligna “coringuiana” que só um povo perturbado é capaz de exibir.

O bicho pegando, a zorra fedendo (a presunto), o corpo já esfriando e a mulher vendo comicidade na putrefação.

A família de Quincas, com sua hipocrisia moral, que seja, só quis enterrá-lo no que entendiam ser um velório digno para um “homem de bem”.

Os amigos do Berro d`Água, por sua vez, só desejaram dar uma despedida épica, luxuriosa, na esbórnia, regada a cana e zombaria, tal qual escolheu viver o homem.

Mas, a senhora real, da vida vivida só quis mesmo se locupletar do morto.

Um emprestimozinho e tchau.

Sete palmos pro velhinho e calote para o banquinho (esta a menor das blasfêmias, no caso).

Uma total profanação post mortem.

Coisa de excomungada para a Igreja Católica, obssessora no espiritismo, possuída em qualquer crença.

Uma heresia dos 600 demônios!

Mas, como até para o “cão” a Lei prevê presunção de inocência, a dita cuja já tem seu “Advogado do Diabo”.

Dizem que o motorista do rabecão, ops, carro funerário, digo do Uber, teria visto o morto segurando na porta do veículo.

Só se foi para reivindicar o direito de ser enterrado, como os cadáveres insepultos de Incidente em Antares, do grande Veríssimo.

E a defesa já saiu com a pérola de que tudo aquilo na verdade era uma brincadeira familiar de morto-vivo!

Traduzo…

O velho chegou com vida ao banco, lá na hora do grito: “MORTO!!!!” se assustou e com o sobressalto, solavanco do repente, morreu de morte morrida mesmo ali na hora.

Uma fatalidade!

-Só sei que foi assim – diria o fantástico personagem do outro gênio de histórias fantásticas, o Ariano.

Marcos Thomaz

*Este espaço é opinativo. As ideias e conceitos neles contidos não representam o pensamento e linha editorial do site, mas refletem a opinião pessoal do autor

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