Duas jovens georgianas, Elene Deisadze e Anna Panchulidze, ambas de 19 anos, se conheceram no TikTok e descobriram que são irmãs gêmeas, vítimas de um grande escândalo de tráfico de bebês na Geórgia. A história delas, divulgada pela AFP, é um exemplo chocante do impacto desse esquema que se arrastou por décadas no país.
A primeira interação entre Elene e Anna aconteceu em 2022, quando Elene encontrou o perfil de Anna no TikTok e notou uma semelhança impressionante entre elas. Inicialmente sem saber que eram irmãs, as jovens desenvolveram uma amizade. Meses depois, após investigações e testes de DNA, descobriram que eram, de fato, gêmeas, separadas ao nascer e adotadas por diferentes famílias.
Tráfico de crianças
Elene e Anna estão entre dezenas de milhares de crianças georgianas vendidas ilegalmente em um esquema de tráfico de bebês que durou várias décadas. De acordo com a AFP, muitas dessas crianças foram desapareceram de suas famílias biológicas por uma rede de maternidades. São creches e agências de adoção que falsificaram registros de nascimento e venderam os bebês para outras famílias. Os pais biológicos eram frequentemente enganados com falsas notícias sobre a morte de seus filhos.
A jornalista Tamuna Museridze, que se dedica a investigar esse esquema, revelou que, entre 1950 e 2006, ocorreram o roubo pelo menos 120 mil bebês de seus pais A situação só começou a mudar em 2006, quando o presidente Mikheil Saakashvili implementou medidas antitráfico que desmantelaram a rede criminosa. Tamuna, que também foi vítima desse esquema, criou um grupo no Facebook para ajudar outras vítimas a encontrar suas famílias biológicas. Até agora, 800 famílias se reuniram graças a essa iniciativa.
Lia Korkotadze, a mãe adotiva de Elene, relatou à AFP que adotou a bebê após descobrir que não podia ter filhos biológicos. Embora não soubesse que a adoção era ilegal, Lia enfrentou meses de atrasos burocráticos para formalizar a adoção. Em muitos casos, os pais adotivos desconheciam a ilegalidade do processo, enquanto outros optaram conscientemente por contornar a lei e comprar um bebê. A história de Elene e Anna é um lembrete sombrio das consequências devastadoras do tráfico de bebês e da importância de justiça e reunificação para as famílias afetadas.
Foto: Reprodução/Instagram/@_amykhvitia