De repente o cidadão vibra euforicamente.
Me viro e olho a televisão com a certeza de ter saído algum gol.
Ledo engano. O êxtase era pelo escanteio de qualquer time.
A partida de futebol passava em uma conveniência e o rapaz não torcia para nenhum dos dois times, mas analisava o scout com atenção mais redobrada do que se fosse um jogo do seu clube.
Havia jogado em site de apostas detalhes como número de escanteios, cartões amarelos e outras mumunhas mais.
Desde que o sistema entrou e se difundiu no Brasil não se acompanha mais futebol como antes.
Esqueça mudanças drásticas de regras, modernizações como o VAR etc.
As tais das BETs
A grande mudança no jogo, que é preferência nacional, vem das tais BETs.
Em menos de uma década os sites de apostas se entranharam no cotidiano do esporte e adeptos.
Para a maioria dos torcedores não existe mais acompanhar jogo sem “fazer uma feziinha”.
Para os campeonatos não existe competição, para os clubes não existe realidade sem patrocínio de uma Bet (todos os 40 times das séries A e B possuem uma empresa do ramo na sua camisa e todos os torneios são nomeados por uma destas marcas).
A reboque desta “tomada de assalto” veio também o fantasma nacional da “Teoria da Conspiração”!
Nada mais acontece em uma partida de futebol sem estar sob a névoa da desconfiança de manipulação…
E daí surgem as teses mais estapafúrdias, comprovações vindas da fonte: vozes da minha cabeça etc e coisa e tal.
Ok, ok, “O Brasil não é para amadores” e já existem episódios comprovados de fraudes e combinações inescrupulosas envolvendo atletas e apostadores.
Ninguém em sã consciência duvida que haja corrupção neste sistema, mas daí a atribuir todo e qualquer fenômeno a isso é típico desta “febre tupiniquim” em cravar verdades fictícias.
Um grande eco da tradição nacional em transformar suspeita em fato, em fazer uma mera fofoca ganhar contornos de mandamento.
A última foi neste final de semana em lance envolvendo gol contra do Sport em partida frente ao Novorizontino.
Rumores
O lance típico daquelas trapalhadas homéricas acontece quando o zagueiro recua a bola para o goleiro que está completamente fora do gol, com menos de um minuto de jogo.
Logo as redes se encheram de rumores e, claro, provas incontestes de inspetores virtuais de tratar-se de uma manipulação de esquema de apostas.
Como se a nossa aridez de talentos nesta era precisasse de algum incentivo a mais para cometer pataquadas como neste jogo da série B?!?!
Ora, depois que o senhor fanfarrão, John Textor, bagunçou tudo com teorias estapafúrdias baseadas em erros humanos analisados por Inteligência Artificial está liberado qualquer devaneio.
Se um agente do meio dispara a esmo, alimenta o conspiracionismo sem provas, sustenta teses apenas pela sua indignação com a derrota, está legitimado o choro geral.
Junta-se assim dois grandes atributos nacionais: o pouco espírito desportivo e a nossa sina de mau perdedor (até hoje pululam argumentos conspiracionistas sobre a final de 98 quando a França nos engoliu em campo) com o prazer de difamar.
Está proibido errar no futebol brasileiro.
Todo erro será castigado!
Marcos Thomaz
*Este espaço é opinativo. As ideias e conceitos neles contidos não representam o pensamento e linha editorial do site, mas refletem a opinião pessoal do autor