Reza a máxima que “todo carnaval tem seu fim”!
O dito remete, imediatamente a um necessário retorno de normalidade e responsabilidades, mas também aquele conceito protecionista de deixar tudo o que rolou na avenida, ou entorno lá, bem guardado e em segredo…
“O que acontece no carnaval, fica no carnaval”.
Mas, esqueceram de combinar essa regra absoluta do festejo com duas veteranas de folia!
Mais que isso, os deuses profanos da festa deixaram a esbórnia transbordar e, pelo jeito, o carnaval deste ano só terminará no próximo.
E rendendo…
O que dizer da cena apoteótica, digo apocalíptica envolvendo Baby do Brasil e Ivete Sangalo?
E ainda querem os maledicentes dizerem que o carnaval baiano não tem folclore, é só trio e bla blá bla do despeito!?!?
Isso é o quê de mais folclórico houve em qualquer manifestação neste ano da graça momesco!
Me perdoe o Boi Bumbá no Maranhão, Homem da Meia Noite em Olinda, o escambau…
Mas, a homília das duas sacerdotes em plena Barra soteropolitana foi algo realmente transcendental.
Dizem as testemunhas que até bolas de fogo sobrevoaram o local, trombetas foram ouvidas.
Mas, relevem, não se realizou o toxicológico nos presentes para aferir a legitimidade da visão.
Distopia ao vivo no carnaval
Voltando a distopia presenciada ao vivo em pleno circuito Dodô, palco nobre da folia baiana, talvez espaço mais badalado do carnaval mundial…
De um lado Baby do Brasil, de tantos e outros carnavais, do outro Ivete Sangalo com um pouquinho menos de folia.
A antes esotérica, hippie, sociedade alternativa e piriri pororó, Baby, profetizando o apocalipse neopentecostal daqui a 5, 10 anos.
Um devaneio típico do fanatismo excêntrico que vive a agora ‘Velha Baiana’ (sem etarismo, apenas antagonismo ao que representa o Novos Baianos, faz favor patrulheiro (a).
Para ilustrar o presságio ela pediu a “pupila” para emendar Pequena Eva, um dos maiores sucessos da carreira fulminante de Veveta.
“É o fim da aventura humana na Terra”.
Com a tradicional língua afiada e humor carismático, Ivete acabou por expandir o momento de catarse cristã, dizendo que Jesus iria macetar o apocalipse.
Ao fundo mentalize os acordes e o refrão de “Macetando, macetando”!
Para finalizar o caos divino, Baby, a pastora pós moderna, emenda um “glória a Cristo”, em pleno corredor da luxúria!
Um total non sense!
Aí imagina você, os patrulheiros do universo, aqueles fanáticos religiosos transformando, chamando esta espontaneidade caótica de blasfêmia, heresia e todo tipo de sacrilégio.
Ora, ora, que galera é essa, meu irmão? Interrompe logo Durval, o Lélys, porteiro da casa do senhor, que espanta Satanás.
Xô Satanás!
Deixa a turma se divertir, deixa a festa rolar.
Mas, para você descrente, homem e mulher de pouca fé, fica o recado.
Depois do momento ecumênico no Carnaval, o trio de Ivete, literalmente explodiu, pegou fogo.
Logo a fumaceira foi atribuída a castigo divino.
Ô Deus rancoroso e punitivo deste povo!
Interrompeu seu retiro no céu para castigar a baianinha.
A mesma Bahia, que tem uma devota fervorosa deste Deus opressor, que a deixa subir no trio, reunir uma multidão em êxtase mundano, mas não cantar da forma tradicional as músicas que a levaram até ali.
Tipo a senhora Cláudia Leite negar o original que a catapultou ao sucesso, mas principalmente, negar as raízes afro que deram origem a festa, ritmos e sentido da festa baiana.
Ela não pode mencionar a fé da religião de matriz africana, mas pode se esbaldar em grana na festa profana.
Alô poeta, pode não existir pecado ao Sul do Equador, mas o Juízo Final é aqui!
Marcos Thomaz
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