A alegria que vem das tripas se maravilha até no PF

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Eu sou glutão! Minha família é de glutões.

Lá em casa, “a alegria vem das tripas” (essa eu aprendi recentemente com outra gulosinha, mas serve muito pro meu povo).

A gente se reúne e sente prazer em comer.

Tudo é exagerado, aos montes, para um batalhão, como um rancho.

E via de regra pesado, como reza a culinária baiana.

“Bota dendê no meu Caruru, bota dendê no meu vatapá…”

As maiores lembranças familiares que tenho passam por gerações em torno da mesa farta, opulenta, quase ostentadora, GRAÇAS!

E, revisitando a memória, não consigo lembrar de um, um único cosanguíneo que coma pouco lá nas minhas bandas.

Vocês devem estar pensando na esbórnia alimentar, selvageria gastronômica que me cerca, mas calma, temos modos, somos limpinhos e educados.

Apenas nascemos com este estômago dilatado, paladar apurado e desejo insaciável.

Esta cultura ancestral de comilança me deu um estômago de avestruz, capaz de digerir tudo e aceitar todo tipo de prato.

 

“O maior tempero é a fome”.

Tenho, naturalmente, preferências e aversões, mas não rejeito, em absoluto, nada.

Também subverto a cartilha nutricionista e desprezo horas para refeições adequadas.

Ainda consumo, menos frequentemente, claro, feijão às 22 horas… com farinha, devo frisar.

Acho irresistível um cuscuz com bode, picado no café da manhã!

Um dos mais novatos nesta “aventura gastronômica familiar” é o meu caçula.

E não falo sobre variedade de alimentos, já que com ele o cardápio é mais restrito, pois além das cismas de crianças (que gostam e desgostam de coisas em fases ultra-rápidas), o Ben não come carne, nenhuma carne.

Ele abandonou a proteína, não por desgosto de sabor e sim por causa ideológica: cuidado aos animais.

Ben, assim como eu, ama “comida de panela”, mais especificamente um combo a base de feijão e arroz.

Esta combinação brasileiríssima pode ser seu prato pela manhã, a tarde e a noite, tranquilamente.

Isso facilita o nosso trânsito por lugares diversos, incluindo aqueles tradicionais restaurantes “TEMPERO CASEIRO”, que, infelizmente estão em via de extinção e não agrada paladares jovens pasteurizados em fast foods e afins.

Um destes templos da comida caseira que conhecemos recentemente foi uma birosca, praticamente em frente a escola do Ben.

Em um destes dias corridos lembrei da budega (com U mesmo) escondida atrás de árvores frondosas como solução para nossa refeição antes da entrada dele em aula.

Tudo simplório, poucas opções de guarnição, mas estavam lá 3 tipos de feijão, dois de arroz, a básica saladinha alface, tomate, cenoura e beterraba ralada e o macarrão “pálido” zero tomate delícia que só os bons PFs sabem fazer.

 

Bingo!

Mal devoramos nossos pratos Ben já larga essa:

-Pai, que comida maravilhosa. Que tempero gostoso! Por que demoramos tanto a vir aqui?
Eu rio, revivendo aquilo, como um deja vu…

Ben sempre elogia comidas em lugares diversos, incluindo em casa. Come com prazer e faz questão de verbalizar.

Vira-se pro atendente, que por sinal é o dono do estabelecimento naquele estilo “Sob Nova Administração”, e diz que aquela é a terceira melhor comida de restaurante da vida dele.
Segue enumerando quais são os outros dois primeiros da sua lista gastronômica pessoal (não por acaso dois outros populares).

Enquanto o rapaz se vira agradecido aos risos ele complementa:
-É você quem faz?

Ele aponta para uma senhora, provavelmente sua mãe, ou sogra.

Ben se dirige a ela e diz “parabéns, viu? Amei sua comida!”

Cozinhar para o Ben, para a minha família também é um prazer.

Que o diga minha mãe que come pelas nossas bocas e faz a melhor comida desta e de qualquer galáxia.

 

Marcos Thomaz

*Este espaço é opinativo. As ideias e conceitos neles contidos não representam o pensamento e linha editorial do site, mas refletem a opinião pessoal do autor

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