PL dos apps: a ‘voadora’ na elite que explora

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Um entregador baleado no serviço.

Um motoboy atingido por um veículo e arremessado ao chão.

O que estas duas ocorrências tem a ver entre si, além da natureza da profissão?

Pode não parecer, mas ambas estão submetidas ao pensamento elitista nacional.

A primeira, sob uma ideia de supremacia social, um indivíduo, que se julga superior, por ocupar estrato melhor posicionado, reconhecido, o que concede o direito de ser servido com subserviência absoluta.

No caso em questão, mais ainda, como militar, força constituída, a submissão se impõe pela truculência e deve ser absoluta, inquestionável.

“É o que neguin?”

E assim, um oficial agrediu, deixou em estado grave, entre a vida e a morte mais um cidadão que se recusou a ser inferior, servo dele. Mas sobre esta doença militarista nacional falaremos em outro capítulo…

 

Seguimos com a saga dos aplicativos…

A segunda “imagem” é aquela cena recorrente nas ruas, dia a dia brasileiro.

Motoboys, entregadores estatelados no asfalto, motos e corpos retorcidos.

Profissionais autônomos que dependem da sua profissão para gerar renda.

Sem trabalho, zero receita.

Lembra daquela cena do motociclista com parafusos e metais espalhados por toda a perna trabalhando, fazendo entrega em sua casa, ou na residência alheia?

É desespero, não empenho, dedicação extrema.

Nada de  “O trabalho edifica o homem”, esqueça esta romantização do super esforço alheio, do subalterno.

-Ora, quem quer alcança, basta batalhar.

Um homem nestas condições só trabalha por imposição de fome, necessidade urgente, própria e dos seus.

Quem naturaliza isso é quem lucra, se beneficia desta exploração da indignidade, ou tem a segurança de nunca precisar passar por isso, ou simplesmente é um igual a vítima, só que totalmente alheio a realidade em que está inserido.

Em outra frente, ontem, o presidente Lula assinou proposta de Lei que regulamenta o trabalho de motorista de aplicativo.

Tudo bem, ainda restrito a veículos automotivos de transportes, mas um primeiro passo para estabelecer um mínimo de seguridade social a esta categoria que só cresce.

E um passo assim, fatalmente, espera-se ser extensivo a todos da modalidade profissional de entregas e afins.

Mas, qual a surpresa ao perceber movimento articulado de representantes destas categorias contrário a proposta que só cria garantia de remuneração mínima, assistência social etc??

Na verdade zero.

 

“Alguma coisa está fora da ordem!”

Cadê essa onda vermelha, ameaça comunista, ditadura esquerdista que nem sindicato controla mais.

É cada espécie de representante da categoria servindo ao Diabo, que nem o Homem na causa.

-Queremos liberdade– brada o líder e ecoam as caixas de ressonância…

Liberdade de ser explorado, ser abandonado, descartado à míngua?

Vamos rememorar…

Antes da proposta sair do papel, usuários e profissionais eram aterrorizados pela ideia de que a Uber, por exemplo, deixaria o país, caso fosse obrigada a se enquadrar em lei trabalhista!?!

Aquele medo geral, criação de um mito atemorizante para manter tudo como está.

Ora, A Uber não só ficou, como continuará a ter no Brasil seu maior rendimento mundial. 

Em tempo, na Alemanha, França os direitos trabalhistas dos motoristas de aplicativo já são garantidos, sem registro de Cortina de Ferro nos dois gigantes europeus.

Você pode continuar sem entender, ou fazer vista grossa, mas essas distorções de percepção social unem em cheio os dois exemplos que abrem o texto, envolvendo a vulnerabilidade real e simbólica destes profissionais.

Elitismo não é condição social, mas um pensamento, infelizmente. 

Introjetado nas mentes de pobres, miseráveis e outros mazelados em geral. 

Que crêem em um mercado livre, soberano e justo

Como se houvesse condição de, livremente, sem mediação, equilibrar-se senso de justiça e ganância por lucro

Por que, isoladamente, as empresas de aplicativo não ofertaram estas garantias sociais aos profissionais?

O capitalismo sabe a que se destina.

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