AS IMAGENS OLÍMPICAS (2)

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Imagem: COB

Quando boa parte do Brasil teve que engolir em seco o matriarcado esportivo

Esta, sem dúvidas, foi a pior Olimpíadas para quem adora ratificar conceitos hegemônicos, teorias nada científicas, enfim, destilar todo seu preconceito histórico sobre qualquer coisa.

Aqui na nossa besta província, por exemplo, o que teve de marmanjo tendo que engolir a tradicional blasfêmia machista não está no gibi?!?!

Pela primeira vez na história as mulheres conquistaram mais pódios do que os homens na delegação brasileira.

E foi avassalador. Quase o dobro.

Uma lavada!

Doze a sete para elas. E uma medalha dividida entre homens e mulheres (bronze na competição por equipes do judô).

Deste total de 20 medalhas brasileiras, as únicas três de ouro vieram adivinha de onde?

De representação feminina.

Absolutamente todas as vezes em que o hino nacional foi executado nos Jogos de Paris  foram mulheres estando no alto degrau, com mãos espalmadas nos peitos e gritando a plenos pulmões os símbolos do Brasil.

Um atentado à fragilidade masculina nacional.

Um acinte a eterna visualização fálica máscula brasileira!

Quer piorar este ultraje ao ego macho (e aqui leia-se genericamente, nada restrito a homens apenas, mas um pensamento nacional).

Três medalhas de ouro, com representações de mulheres pretas em todas.

Receba!!!

Não bastava ser mulher, mulheres a destronar a hegemonia dos homens, os “mais capazes” nacionais, mas negras para tocar também em outro drama tupiniquim.

Que golpe!

Rebeca Andrade, Bia Souza, Ana Patrícia, todas negras

Apenas Duda foi a “intrusa”, não negra a furar esta trindade.

Quatro mulheres, “quase todas negras”, já diria Caetano

É tudo delas!

Nem a zica perene contra as meninas do futebol vingou nestas Olimpíadas

Ô trabalho árduo este de ser detrator das minas em Paris!!

Após um início claudicante que indicava eliminação precoce e porradaria in-digna de condenação por Maria da Penha, os revoltadinhos tiveram que recolher a arma, digo a língua em lugar impróprio.

Não que a crítica pela primeira fase, quase fatal, não fosse justa.

Até era. Também o fiz, mas com razoabilidade, sobre jogo e campo.

Mas, a questão é o quanto o insucesso feminino no esporte, ou qualquer área, é apenas combustível para a misoginia geral.

O que teve de cidadão aproveitando mesmo a classificação a final para condenar, por exemplo, Marta!?!?!

Se já não podiam xingar a mulherada em geral, coletivamente, vamos condenar uma!

Aquela que não jogou os dois jogos de classificação surpreendente!

Pronto, era ela a responsável pelas mazelas…

Marta, a melhor de todos os tempos no Brasil e talvez no mundo!

Queriam queimá-la em praça pública!

Apenas mais uma Joana D’arc nossa de cada dia.

Marcos Thomaz    

*Este espaço é opinativo. As ideias e conceitos neles contidos não representam o pensamento e linha editorial do site, mas refletem a opinião pessoal do autor

 

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