Conheça a festa de Natal que celebra a paz com pancadaria

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Você já imaginou passar o Natal trocando socos com seus parentes, amigos ou vizinhos? Pois é exatamente isso que acontece em algumas províncias próximas a Cusco, no Peru, onde se realiza o Takanakuy, uma festa cultural que promove a pancadaria na época natalina. Por mais estranho que pareça, o objetivo do ritual é promover a paz.

O que é o Takanakuy?

A princípio, o Takanakuy é uma palavra quechua que significa “bater-se mutuamente”. É uma tradição da província de Chumbivilcas, próxima ao Cuzco, em Peru . Ao mesmo tempo, nela há duelos de luta entre membros da comunidade, com oponentes de características similares. Os duelos são usados para resolver velhas querelas ou simplesmente pelo desejo de participar da tradição, tudo dentro de um marco de festa.

A música e dança que costuma tocar durante a festividade são as Huaylias. A prática tem suas origens no “Taki Unquy”, que foi uma resistência religiosa e cultural relacionada à invasão espanhola. Esta origem é similar à da dança das tesouras.

Como funciona o Takanakuy?

O Takanakuy acontece no dia 25 de dezembro, depois da missa de Natal. As pessoas se reúnem em uma praça ou campo aberto, onde se formam os ringues de luta. Antes de começar, os lutadores bebem álcool, mascam folhas de coca e invocam a Pachamama, a Mãe Terra. Depois, eles se cumprimentam com um aperto de mão e se preparam para o combate.

Os lutadores usam trajes típicos, que representam diferentes personagens baseados em símbolos culturais andinos. A maioria das vestimentas leva calças para cavalgar de couro, uma máscara de lã colorida chamada uya chullo, que cobre toda a face, a qual é característica da área regional de Chumbivilcas. Os uya chullos podem levar animais empalhados na parte superior. Eles têm diferentes cores, desenhos e padrões têxteis.

Há cinco categorias de personagens tradicionais retratados durante a cerimônia, com funções diferentes:

Q’ara: são os lutadores que não usam máscara nem chapéu. Eles representam a classe baixa e a humildade.

Majeno: são os lutadores que usam chapéus de palha e máscaras de tecido. Eles representam os trabalhadores rurais e a alegria.

Negro: são os lutadores que usam máscaras de cor negra e chapéus de feltro. Eles representam os escravos africanos e a rebeldia.

Langosta: são os lutadores que usam máscaras de cor vermelha e chapéus de couro. Eles representam as pragas agrícolas e a destruição.

Saqra: são os lutadores que usam máscaras de animais e chapéus de penas. Eles representam os demônios e a maldade.

De acordo com a tradição, as lutas são supervisionadas por um juiz chamado yanapaq, que garante que as regras sejam cumpridas. As regras são simples: só se pode usar as mãos para golpear, não se pode morder, arranhar, puxar o cabelo, chutar ou dar golpes baixos. Também não se pode atacar o oponente quando ele estiver caído ou indefeso. As lutas duram até que um dos lutadores desista, seja nocauteado ou se declare empatado.

Qual é o objetivo do Takanakuy?

O Takanakuy não é uma simples briga, mas um ritual de reconciliação. A ideia é “lavar toda a roupa suja” de uma vez e começar o ano novo de maneira leve e bem resolvida. Por isso, as lutas devem terminar com um abraço e um aperto de mão entre os contendores, que se perdoam e se esquecem das ofensas.

Em síntese, o Takanakuy também é uma forma de expressar a identidade cultural e a resistência dos povos andinos, que mantêm vivas suas tradições ancestrais. Além disso, é uma maneira de fortalecer os laços comunitários e de demonstrar a coragem e a honra dos lutadores.

O Takanakuy é, portanto, uma festa de Natal diferente, que celebra a paz com pancadaria. E você, teria coragem de participar?

Foto: Reprodução X Giro Latino

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