O divórcio é uma decisão difícil e dolorosa para qualquer casal. Contudo, pode ser ainda mais traumática para os filhos pequenos, que podem não entender o que está acontecendo. Ou até pior, como se sentir culpados, abandonados ou rejeitados. Por isso, é fundamental que os pais se preparem para comunicar o processo de separação aos filhos de forma clara, honesta e respeitosa. O objetivo é preservar o bem-estar emocional das crianças e o vínculo familiar.
Planejamento, sabedoria e diálogo
De acordo com Stella Azulay, educadora parental e fundadora da Juntos Educação, esses são os três pilares que devem orientar os pais que vão se separar e têm filhos pequenos. Ela explica que o planejamento envolve escolher o momento adequado, o local tranquilo e a forma simples e direta de falar sobre o divórcio. A princípio, a sabedoria consiste em evitar acusações, brigas ou detalhes desnecessários que possam confundir ou magoar as crianças. E o diálogo implica em ouvir as dúvidas, os sentimentos e as preocupações dos filhos. Sempre respondendo com sinceridade e carinho. E, além de tudo, reforçando o amor e o apoio incondicional dos pais.
“Se um divórcio traz insegurança para quem está se separando, imagine para os filhos. Cada passo que se dá tem consequências e é preciso que o processo de comunicação seja feito de forma adulta, madura e pensada para os filhos não terem a vida impactada negativamente por causa do divórcio”, afirma Stella.
Aconselhamento parental
Para auxiliar os pais nessa tarefa delicada, existe o aconselhamento parental, que é um serviço profissional que visa ajudar as famílias a desenvolverem habilidades comportamentais essenciais para a criação de vínculos sólidos e saudáveis entre seus membros. O aconselhamento parental pode ser feito antes, durante ou depois do divórcio, dependendo das necessidades e dos objetivos de cada família.
Um exemplo de casal que recorreu ao aconselhamento parental foi a modelo brasileira Gisele Bündchen e o astro de futebol americano Tom Brady, que se separaram em 2022, após 13 anos de casamento. Como parte do processo de separação, o ex-casal passou por orientação parental na Flórida, estado americano onde o divórcio foi formalizado. O procedimento é feito para ajudar os pais a lidarem com o impacto que o divórcio pode trazer para o relacionamento futuro com os filhos.
Esse processo é obrigatório na Flórida. Ao mesmo tempo é um dos pré-requisitos para casais que estão se separando e têm filhos. Gisele teve dois filhos com Tom e havia outro, mais velho, de uma relação anterior do ex-marido.
O ex-casal também procurou um mediador parental para definir os termos da relação que cada um terá com os filhos. Um acordo de guarda conjunta foi alcançado e o processo foi elogiado pela imprensa pela capacidade de ambos deixarem as diferenças de lado e pensarem no melhor para as crianças.
Orientação parental no Brasil
No Brasil, ainda não há uma legislação que obrigue os casais que estão se separando a participarem de sessões de aconselhamento familiar, mas Stella acredita que isso será realidade no futuro. “A educação parental pode auxiliar pais que estão no processo de separação. É preciso saber como se comunicar com os filhos sobre a separação, como eu falo sobre meu ex e como eu lido com situações pós-divórcio”, exemplifica.
Ela destaca que o casal não tem mais vínculo conjugal, mas continuam sendo pais. Entre os temas a serem administrados depois da separação, estão as eventuais exceções ao acordo de guarda (ex.: deixar o filho dormir na casa do ex-cônjuge por mais um dia), a chantagem emocional dos filhos e a introdução de um novo relacionamento.
O que existe em termos de legislação nacional sobre aconselhamento é um projeto de lei (PL 4360/19) que propõe a participação de “oficinas de parentalidade” para casais em processo de separação litigiosa. As oficinas são programas educacionais dos tribunais de justiça dos estados para fortalecer vínculos afetivos e orientar pais e filhos sobre as consequências da separação na vida familiar.
O divórcio é um desafio conjunto
O divórcio é uma situação complexa e desafiadora para qualquer família. Contudo, pode ocorrer de forma mais tranquila e positiva se os pais se prepararem para comunicar o processo aos filhos. Portanto, é preciso planejamento, sabedoria e diálogo. O aconselhamento parental é uma ferramenta que pode auxiliar os pais nessa missão. Ter um profissional que contribua para a preservação do bem-estar emocional das crianças e do vínculo familiar é salutar. Assim como pensar sempre nos pequenos.
