O dito popular avisa:
“Passarinho que anda com morcego, dorme de cabeça pra baixo!”
Eu, não nasci para beija-flor, tampouco tenho instinto do vampirismo…
Mas, pago minhas penitências em casa, não, necessariamente, de ponta-cabeça, mas emborcado, como diz na minha terra.
Como versa o ditado, tenho arcado com consequências por meus atos.
Nada relacionado a más companhias, porque “o sistema é mal, mas minha turma é legal”…
A pena caseira é por um hábito, digamos, involuntário…
Mais que isso, tardio, um fenômeno corporal que se desenvolveu de uns anos pra cá:
Eu ronco…
Ok, ronco bem, ronco gostoso, com volúpia e estrépito!
A ponto de, às vezes, me acordar com meu próprio rugido.
Não sei se o barulho, ou o tremor tectônico causado pelo movimento, mas confesso já ter sido despertado percebendo algo “fora do tom” no ar.
O pior é que, diferente dos roncadores de plantão, eu não tenho padrão, constância.
Ronco em altos décibeis hoje para dormir como a “bela adormecida” (Lá ele!) amanhã.
Quiçá tem aquela tradicional posição vilã!
-Uia…
Ronco de buxo pra cima, pra baixo, de banda.
Uma esbórnia!
Empiricamente, eu e minha mulher já descartamos a maioria das causas de ronco identificados pela literatura: álcool, cigarro (mentira, essa dupla do capiroto ela mantem no alvo por motivos preservacionistas, digamos assim) etc e coisa e tal.
Agora, noves fora qualquer coisa, a comilança noturna é um padrão para acentuar o distúrbio, mas não é regra!
O problema é que, como toda fama, no caso má fama, a coisa vira uma tatuagem na pessoa.
Depois de publicizado, confessado e registrado em cartório, você nunca, jamais será inocente, mesmo com as mãos limpas…
Vejam que no nosso quarto dormimos eu, ela, o bebê Vicente, além de Pitty e Maria Flor, as duas cachorras idosas, quando não se assoma ao recinto, Benjamin, meu filho do meio.
As dogs roncam, noite sim, noite também.
Revelo aqui, a contragosto dela, que a própria Robs também solta seus roncos, ocasionalmente.
Se duvidar até Vicente emite suas vibrações sonoras noturnas…
Mas, seja como for, a culpa é sempre minha!
Ônus de ser o tenor do coral.
DORMINDO COM O INIMIGO
Pelo sim, pelo não, minha mulher criou um método caseiro.
Eu não sei quanto de punição, ou resolução há na medida, mas a gente vem praticando…
A técnica consiste em me fazer dormir quase sentado.
Começou modestamente, como toda sorrateira idéia:
-É só a c… amor!
Quem nunca?
Agora o papo real:
-Vamos testar deixar seu corpo mais inclinado? O travesseiro um pouco mais alto assim, assado e piriri pororó…
No começo… era apenas a cabeça e pescoço elevados.
A princípio, disfarçou a real intenção em mimos, presentes camuflados… uma coisa de travesseiro pra lá e pra cá. Parecia que havia se associado a uma tapeçaria…
Eis que se formou uma montanha no meu lado da cama.
O corpo da metade das costas para baixo estirado, acima uma inclinação de quase 45 graus.
Já antevejo a nova mazela se manifestando vorazmente.
Na fuga do ronco vou adquirir um torcicolo, fatalmente!
Moral da fábula: homem que faz barulho na cama acorda envergado!
Marcos Thomaz
*Este espaço é opinativo. As ideias e conceitos neles contidos não representam o pensamento e linha editorial do site, mas refletem a opinião pessoal do autor