Você sabia que tem uma religião reconhecida, internacionalmente, e ela surgiu aqui na Paraíba?
Esta semana a Assembleia Legislativa da Paraíba aprovou a Jurema Sagrada como Patrimônio Imaterial.
É o primeiro reconhecimento do tipo de um Estado brasileiro a esta tradição secular, com registros que remetem há mais de 500 anos.
Segundo Cleyton Ferrer, Babalorixá, Juremeiro e pesquisador da temática (confira o documentário dele sobre a religião no youtube: https://youtu.be/UNKiKtwtRUI?si=_KiRf91J2jovIpub), a Jurema Sagrada é uma religião Afro-Indígena surgida na região onde hoje se localiza o município de Alhandra.
Uma genuína manifestação, tradição, cultura local, com representação em outras divisas e praticantes espalhados além mar.
Pré-requisitos mais que suficientes para o movimento de fé receber reconhecimento institucional, confere?
Parece óbvio, quando tratamos do Estado Laico como princípio Constitucional.
A separação entre Estado e Igreja está na Constituição Federal, que explicita que o Estado não pode ter uma religião oficial, assim como favorecer, ou perseguir qualquer uma.
Como em vários outros temas comuns a nação, que tocam em questões como diversidade, seja ela moral, de costumes, cultural, ou mesmo a em voga, religiosa, parlamentares, políticos em geral, com mandato em vigor, passam por cima da Carta Magna.
Quantos espaços públicos, sedes de poderes, palácios de justiça estão adornados com imagens, referências, até santuários ao simbolismo cristão?
Quantos feriados do calendário do Cristianismo estão embutidos ao longo do nosso ano?
Fatores menores a avalizar a postura intolerante, pautada em fé própria, ou simples aceno a rebanho de eleitorado de muitos políticos brasileiros…
Via de regra, estão respaldados, irmanados em torno de um lema comum “Deus, Pátria e Família…”
Não foi diferente na “Casa do Povo paraibano” quando dois deputados alinhados ao que definem como ideologia conservadora se manifestaram contra o reconhecimento: Walber Virgolino e Sargento Neto, ambos do PL.
Felizmente, a postura dos dois parlamentares, junto a Tovar Cunha Lima, do PSDB, que se absteve, foi fenômeno isolado na Assembleia Legislativa da Paraíba, que respeitando a pluralidade de representação, concedeu o reconhecimento histórico a tradição local.
A propositura do reconhecimento da Jurema como patrimônio imaterial da Paraíba foi uma proposta da deputada Cida Ramos que justificou no texto: “Apesar de toda busca de organização e respaldo jurídico, é importante salientar que os religiosos de cultos afro-brasileiros e indígenas continuam sofrendo com o racismo e a intolerância religiosa. Segundo o disque 100 – canal de denúncias do Ministério dos Direitos Humanos – no primeiro semestre de 2024 houve-se uma média de quase sete denúncias por dia, recaindo, principalmente, contra as religiões de matrizes africanas”, afirma Cida ao apresentar o projeto.
Marcos Thomaz
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