Uns beradêro na selva de concreto!
Assim poderia ser definida a passagem de Wil Cor e Eletrocores por São Paulo.
O grupo paraibano desembarcou na paulicéia desvairada para show único em local mais que apropriado: Centro Cultural Casa Di Caboclo, um tipo de quilombo off-line no bairro Vila Mariana, onde acontece exposições, encontros, festival de jazz, samba, hip hop, e temas ligados a cultura negra.
A grande novidade é que a apresentação exclusiva por paragens sudestinas pode ser conferida na íntegra no youtube da banda: Wil Cor e Eletrocores.
O projeto de mini tour na maior cidade da América Latina foi promovido através do subsídio estadual “Arte na Bagagem”, programa permanente de fomento a cultura do Governo da Paraíba, que leva a música daqui para outros estados e até países.
O SHOW
A apresentação faz parte do show “Valei-me Nossa Senhora Cátia de França e meu guerreiro Chico César”; fruto do lançamento do EP de mesmo nome, que também saiu em vinil recentemente.
O show começa com a inédita “Chama pra cantar”, que o grupo tem usado para abrir os trabalhos.
A segunda música, já é do homenageado do vinil…
Lembra da citação a “Beradêro”, que abre este texto?
Pois é, remete a moradores ribeirinhos, em outra conotação até sujeitos isolados, mateiros… Daí nasce o paradoxo, um quinteto sonoro mais que moderno, criando uma sonoridade profusa e rica, além lugar específico.
No original de Chico César, Beradêro é um tipo de aboio, na versão Eletrocores ela vira um groove pesado com marcações de tempo estratégicos, mas, não perdendo o coco estilizado do final. Na sequência a baião-rock “Nossa Senhora Cátia de França”, que é uma lapada sonora logo no primeiro riff de guitarra; e mudanças climáticas no meio da música, com um trompete hipnótico.
A canção , ainda inédita, que fala do ritual da lua cheia dos Potiguara, em Baia de Traição, na Paraíba, entra poderosa, com uma crítica social urgente, e um convite a ancestralidade necessário, com climas de trompete, uma bateria quase funk, ora afrobeat, ora rock clássico.
“Valei-me meu guerreiro Chico César”, talvez seja a música mais pop do repertório; com estrofe, refrão, solo, tudo como manda a estrutura de uma canção. Nela, Wil Cor cita quatro trechos de música de Chico, mostrando a devoção e influência da obra do artista na homenagem da banda.
Cátia de França entra novamente no show, com uma versão bem rock in roll de “Ensacado”, música da cantora sobre o poema de Sérgio Natureza. Sam Cesaretti explora os timbres pesados e dobra a aposta nos solos. A, também inédita, “Ninguém vai se salvar” é um convite ao groove dos anos setenta, trata do tema recorrente da banda, a persistência negra na sociedade. Bem no meio do show, a banda inclui “Capim” do compositor paraibano Vieira. Um respiro de climas, instantes, e viagens instrumentais, de harmonia cativante, e letra enigmática. A versão da banda é mais longa que a original, e lógico, solos de guitarra e trompete.
A grande surpresa da noite é a participação da cantora e compositora Amandha. A musicista de Montes Claros, Minas Gerais, que está há um tempo morando em São Paulo, interpretou com a banda “Lamento Sertanejo”; que na versão Eletrocores, ganha ares de heavy metal, com bateria truncada; teria tudo para soar bem pesada, mas, Amandha “lamenta” mesmo, com seu timbre diferenciado, divide as estrofes com Wil, e ainda capricha nos vocalizes. Ficou sensacional.
O show segue com as canções “Escureceu” e a “Certeza da vida” do primeiro EP da banda, “Estilhaço”; e um momento bem marcante com a versão de “Dança” de Chico Cesar. A música por si, já é tribal, mas, na versão do show, ganha uma guitarra percussiva, e uma pulsação de corpo, que faz jus aos ares ritualístico da interpretação.
Parta conferir o show basta acessar o link abaixo: