Após 40 anos o AXÉ ainda ateia fogo até a quarta-feira de cinzas

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Axé babá!

A saudação afro, que dá nome ao título da música de Gil, também era usada como uma redução da depreciativa expressão Axé Babaca, que uns metidos utilizavam para se referir ao gênero que faz 40 anos e ainda pulsa!

Era uma variação da já pejorativa, à época, alcunha criada por Hagamenon Brito, crítico musical da Boa Terra!

Coisas do elitismo cultural que ainda ecoa por aí…

Claro, como tudo apropriado pela indústria cultural, sobra enlatado descartável…

Em alguma medida, eu também fui algoz nesta pretensão de querer, mesmo contra forças naturais, ancestrais e tudo o mais, negar a potência avassaladora da Axé Music

Coisa de rockêro oitentista/noventista.

Esta coisa démodé de se fechar em tribos, negar qualquer coisa que faça sucesso, seja popular e ainda se achar superior por alguma predileção!

Ingênuos que não percebiam que nada podia ser mais Rock´n Roll do que Luiz Caldas em cima do trio elétrico, com uma camisa do Korzus, quebrando até embaixo no fricote, para depois emendar com Fear of The Dark!

O mesmo espírito dos pobres radicais a tacarem garrafas em Carlinhos Brown no Rock in Rio.

O mesmo Brown que, também para despeito quase geral dos headbangers tupiniquins virou quinto elemento e voz ativa no disco mais bem sucedido da maior banda brasileira de metal, Sepultura!

Por força maior, graças, eu era um udigrudi menos drástico, apesar das pinceladas de extremismo musical, flutuava em vários ambientes.

Ouvia muito mais que porradaria, desde sempre, circulava por vários ambientes…

Não me furtava a ir a um forró, curtir micareta etc e coisa e tal.

MÚSICA AMBIENTE DA MINHA BAHIA

Era inundado de vibrações axezísticas por meio do saudoso Pelocão, uma reunião de amigos (no caso dos meus pais), que virava uma grande horda familiar com menino, gato, cachorro e agregados envolvidos…

Além das memórias da farra infantil, diversão entre a minha parte da sociedade bueraremense, minha principal lembrança era o samba-reggae rudimentar da Banda Reflexus, das primeiras batidas do Olodum que começavam a ressoar Bahia adentro…

Do afoxé, ijexá de Gerônimo e o hino de todo baiano D’oxum!

Pelocão, guardaram o nome?

Na minha lembrança pueril sempre remetia a Pelô, de Pelourinho e Cão, de Vera Cão, famosa personagem e querida amiga dos meus pais, baluarte desta festança local.

Isso é apenas para ilustrar como a música é das principais memórias que me transportam a estes momentos.

E, no caso, Axé Music!

Minha mãe me alerta hoje, agora, que o nome nada mais é que a referência direta ao Peloco, espécie de galo rústico, quase uma galinha caipira, só que mais caipira ainda…

Era no bucho e não no som a motivação da reunião, ao menos para eles.

Lembro ainda da capa de disco clássico, “Sementes”, do Chiclete com Banana, a reluzir na sala lá de casa e tocar, alucinadamente, em fins de semana festivos.

Era época ainda de um Chiclete galopado.

O marco histórico/cronológico do Axé Music sempre remete a Luiz Caldas com seu fricote a temperar a Bahia e invadir o Brasil.

O Rei do Axé faz jus à realeza, mas a data, que dá play ao que se festejou nestas últimas quatro décadas é mais proforma.

Fato é que já existia AXÉ antes da, hoje CANCELADA, “Nêga do Cabelo Duro”  e outras pérolas do disco “Magia” .

É como se o homem do “deboche” tivesse dado forma, ou sido o vetor para a explosão do fenômeno, necessário representante de um povo, o povo da Bahia, gente do AXÉ!

Mas, as bases da “música baiana” já ecoavam antes do marco de Luiz Caldas.

Axé, que deu ao Brasil, pro bem e pro mal, um jeito nacional de fazer festa, celebrar.

Apenas festejar, como se não houvesse amanhã.

A quem considere alienação festejar a própria miséria social de um país…

Prefiro pensar que há uma força revolucionária em ser feliz hedonísticamente, enquanto o mundo explode.

A alegria também é um ato de subversão.

E poucas manifestações são mais resistentes, provocativas que o Carnaval a “jogar leite na cara dos caretas”, como dizia um locutor esportivo baiano.

É pura criatividade no caos instituído.

Vida ainda mais longa ao Axé!

“Ajayô, ajayô ô-ô-ô, axé babá, axé babá á-á-á…”

Marcos Thomaz    

*Este espaço é opinativo. As ideias e conceitos neles contidos não representam o pensamento e linha editorial do site, mas refletem a opinião pessoal do autor

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