Depois que meteram grife na comida o caldo entornou de vez…
Vejam vocês, fui fazer um domingo no parque, seguindo as orientações do mestre Gil, e pensei em desfrutar de iguarias locais.
-Estes parques/praças do urbanismo hodierno (recebam um vernáculo rebuscado aí) são uma delícia da convivência coletiva, democráticos , abertos ao público em geral, ninguém é mais que ninguém ali…
Calma emocionado!
Não se empolgue, que o capitalismo não dorme no ponto, nem perdoa!
Estes espaços estão abarrotados de ofertas de alimentos, como era outrora, com uma substancial diferença!
Agora, nada daquele tiozinho vendendo pipocas em saquinhos marrons, o velho rolete de cana, ou tábua de pirulito anunciado aos gritos.
De repente aquela pracinha de food trucks, outra moda desta modernidade!
Um trailer de caldo de cana logo chama a atenção do infante sedento, Benjamin.
-Pai, tô com sede, quero um caldo de cana!
-Tá com sede toma água- seria a resposta padrão.
Mas, era domingo, dia de luxar…
Já prevendo “o golpe” mando consultar os astros, digo o cardápio, para ver a viabilidade daquela empreitada de enviar litros de sacarose para o sangue.
-Dez reais um copinho!
Peraê, seu dotô?!?!
Importando cana?
A poucos quilômetros dali tem oferta de rodízio, isso mesmo rodízio de caldo de cana a módicos três reais.
É açúcar free pra deixar diabético em coma.
-Simbora, Ben, toma água aí!
Eu, nem tinha fome, mas o carrinho de milho parecendo um milharal inteiro, mais paramentado que um espantalho colorido, me chamou a atenção…
Apesar do prenúncio de PERIGO, risco de assalto a mão armada aventuro me aproximar.
Uma placa reluzente anunciava a invenção: GRÃOS NO POTE!
Se você achava demais acarajé no prato, cachorro quente com colher, toma um milho em grãos no copinho, juventude.
Ok, ok, além de poupar os dentinhos alheios do crec crec, aquele saboroso sabugo enfiado no meio da arcada, a idéia era misturar uns condimentos e outros “tipos de algo”!
Se duvidar até molho barbecue tinha no menu!
Ou seja, transformar milho em qualquer outra coisa!
É o trabalho reverso do vegano que vive atrás do sabor Bacon nos produtos naturais.
Mas, fica aí que o absurdo ainda estava por vir…
Informo ao vendedor vestido a caráter que queria apenas um milho à moda antiga, para roer nos dentes, como faziam os Astecas!
-Ah, apenas manteiga e sal? Dez reais…
-É só um milho, amiguinho. De cumê. Lembra do pica-pau?
Desisto da gracinha com o jovem e me recolho a meu universo rústico, fora da gourmetização geral.
Nem venham me chamar de radical, mas esta apropriação cultural de pegar itens triviais do dia a dia, embalar em “véu de noiva” e cobrar o “olho da cara” é um crime moderno.
E, pior, ainda pioram os produtos.
Alguém devolva meu dindin, geladinho, juju na minha terra!
Tudo agora é cremoso, a base de leite, choconinho, nutella e outros fru-frus!
Ah, me façam uma groselha!
Marcos Thomaz
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