“Nunca vi ex-gay, ex-maconheiro, nem enterro de anão…”
Como todo dito popular, a máxima da minha infância na Bahia está envolta em um espectro politicamente incorreto.
Se por um lado bate de frente com a cura gay (ao negar-se efeito de qualquer “remédio” para a questão), por outro estigmatiza o viciado em drogas e desumaniza a pessoa com nanismo, ou qualquer deficiência!
Mas, o ditado cairia como uma luva se aplicada a um tipo, fenômeno que ganhou corpo e vida nos últimos anos no Brasil: o Ex-comunista, que virou radical de extrema direita.
Sabe aquele seu tio, avô, amigo dos seus pais, ou mesmo você aí da poltrona…
Todo mundo conhece um auto-proclamado antigo militante da esquerda, quase guerrilheiro revolucionário que, nesta quadra miserável da história fez às vezes de porteiro de quartel, a marchar ao léu, batendo continência a qualquer rajado-camuflado.
O típico lambe-botas de milico!
-SELVAAAAAA!
Independente da gradação, via de regra, este perfil flutuante entre extremos, nada mais é do que um cidadão médio ao sabor do vento da hora.
Pra onde apontar a direção da brisa ele é levado.
Um alienado oportunista, oportunista alienado, tudo junto e misturado, ou uma coisa, ou outra…
Qual era a tendência, moda mesmo, nos estertores do Regime Militar, quando o governo autoritário já agonizava, ou no período logo posterior??
Clamar pela abertura democrática era cool!!!
–Diretas Já unia campo e arte.
Democracia Corintiana, músicos de qualquer vertente, sétima arte…
Apelo fácil para umas mentes vazias, outras sagazes, apenas aderirem, surfarem na onda.
Isto nada tem a ver com convicção, ideologia, tal qual agora.
Tem a ver com ocasião, acima de tudo!
E assim permaneceu por um período logo após mas, bastou um curto afastamento temporal, para o desmemoriado povo voltar a seu instinto natural.
SINAL DOS TEMPOS
A esquerda representava a revolução, a mudança radical e perdeu o posto por erros próprios também, claro.
Mas, a direita oblíqua ocupar este lugar é bem distópico!
A diferença é que, quando era a esquerda a ocupar o espaço havia um alvo e “perigo real e imediato”: a carcomida ditadura militar e seus “generais de dez estrelas com o c… na mão”, como dizia o poeta Renato, Russo não da URSS, mas de Brasília mesmo.
Você podia até não gostar da linha, não concordar com as idéias, mas quando a esquerda estava na posição frontal de oposição ao status quo da hora, o “lado left da força” fazia isso com proposições concretas, mudanças para resultados objetivos.
Hoje, a extrema direita se apropriou desta brecha apenas no estardalhaço e barulho oco, vazio.
É fogo no parquinho!
A ordem é incendiar a tudo e a todos!
Remexem o terreno fácil de um país assolado em problemas históricos, indignação de uma população explorada, diariamente…
Aí aparecem com verborragia raivosa, catalizadora da revolta geral, apresentando soluções fáceis, idéias de rupturas, cisões fictícias, insustentáveis!!
Daí nasceu até o conceito de outsider, anti-sistema do Bolsonaro, logo ele, um parasita com a vida inteira pendurada no próprio sistema!
É a era do progressismo reacionário!
Aí logo surgem as desculpas:
-Eu era de esquerda, mas me decepcionei com o Petê!
Se o PT o fez desistir de convicções ideológicas, de visão de mundo, valores humanitários, justiça social, estas tais convicções nunca existiram.
Sua escolha de ser extremista, ultra-conservador, liberal, odioso é toda sua e não é de hoje, estava apenas camuflada.
Marcos Thomaz
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