A música Made in Parahyba que salva almas e pulsa negritude

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Vieira e Will. Foto e montagem: Tomás Oshiro
Vieira e Will. Foto e montagem: Tomás Oshiro

A música já salvou você em algum momento!

Todo ser humano, invariavelmente, foi resgatado por aquela canção arrebatadora!

Seja na sofrência, ou êxtase, sempre tem aquele verso, refrão, riff, batuque, melodia que liberta!

E seja qual for a vertente musical tem sangue negro pulsando som!

Assim, nada mais propício do que o título que dá nome a um promissor festival que se estabelece na cena musical paraibana.

O “Música Preta Salva” teve a sua quarta e mais furiosa edição neste último final de semana.

Há tempos eu não vivia uma noite redentora de shows assim.

Pelo palco do Caravela Cultural passaram Acarajow, Day Roque, Wil Cor e Eletrocores (anfitriões da festa) e Vieira, em novíssima formação.

Todos explorando a temática do evento, “especial Chico César e Cátia de França”, que receberam versões arrojadas em todas as apresentações.

Apresentações, por sinal robustas, viscerais!

Poucos lugares podem se dar ao luxo de celebrar o passado e apresentar o presente de músicas autorais com tanta pujança.

Esta é a fértil Parahyba.

A noite abriu com DJ Acarajow e seu setlist primoroso, passeando por diversas épocas da música negra brasileira.

Depois a maior surpresa da noite. A pequena Day Roque se agigantou com seu repertório cheio de arranjos exclusivos, em roupagem muito originais e muito bem acompanhada por uma banda precisa, redonda, com destaque para o guitarrista Dudu Campos.

A terceira atração foi a “residente” Wil Cor e Eletrocores e seu funk-black-soul-rock instigado.

Além de idealizar o FMSP, coube a Wil fazer as “honras da casa” apresentando duas composições feitas em homenagem as obras de Chico e Cátia, que viraram disco “Valei-me Nossa Senhora Cátia de França e meu Guerreiro Chico César”!

Show enérgico, com banda cada vez mais afiada e achando o ponto certo entre “pegada e suíngue”. Uma cozinha coesa, sincronizada de Erik e Dodô,  a guitarra nervosa de Samir (o punk rock grooveado) e o trompete onipresente de Tarcísio Em Chamas!

A derradeira apresentação foi a apoteose da noite!

Vieira, em novas companhias, conseguiu elevar seu indie a uma bolha sonora completa.

Groovie, black, psicodelia e música pop na medida exata. Arrisco dizer ter sido das melhores apresentações locais que presenciei nos meus 20 e tantos anos de Parahyba.

O tradicional falsete, a estética arrojada, performance incendiária e versos alucinógenos de Vieira foram encorpados em uma cápsula ressoante com a bateria milimétrica, precisa de Vitor Rama, o baixo “balançado” de Nando Júnior e a guitarra assombrosa de Ivo Limeira.

Aqui, cabe, inclusive um parêntese, Ivo Limeira é daqueles raros guitars , que conseguem ser plenos sendo minimalistas. Incrível a capacidade de transformar notas, aparentemente dissonantes, em melodias assobiáveis.

Ivo é daqueles músicos que, em inserções mínimas, transformam canções originais, versos antes de frases mortais em passagens etéreas.

Este show de Vieira merece extensão e desdobramento com esta formação, nesta linha…

E ao Festival Música Preta Salva vale mais algumas dezenas de edições e consolidação no calendário local, regional e, por que não nacional?

Marcos Thomaz    

*Este espaço é opinativo. As ideias e conceitos neles contidos não representam o pensamento e linha editorial do site, mas refletem a opinião pessoal do autor 

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