O 7 de setembro e o falso patriotismo que cega a nação

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Foto: Agência Brasil

Se tem uma coisa, única coisa, que eu gostava no sete de setembro, além de não precisar ir à escola, era assistir fanfarra!

Típica paisagem de interior!

Quem é de recanto remoto como eu vai se identificar.

Guardadas todas as proporções, as bandas marciais, na minha saudosa lembrança equivaliam a uma espécie de Escola de Samba para localidades como a minha Buerarema.

Quase o ano inteiro de preparação, mobilização, abnegação para algumas horas de apoteose nas ruas de paralelepípedo, barro, praças centrais.

Uniformes pomposos, cores e chapeleiras em excesso.

Mas, nada se compara a sonoridade sincronizada, reverberante de agudo a grave, passos em marcha ordenada.

Aquilo tudo era magnetizante a um menor.

Ainda tinham os amigos e amigas elevados a posição de pop star locais, com seus momentos de glória!

Eu gostava tanto, que às vezes ia acompanhar até os ensaios.

Depois de um longo tempo de total aversão, desprezo mesmo, mais especificamente, os últimos anos tenebrosos de falso patriotismo, alienação e ufanismo oco, burro, me deu até saudade deste movimento da comemoração da independência: as fanfarras.

Mas, isso deve ser coisa apenas da tal memória afetiva, porque já passou…

Antes de mais nada, eu como bom baiano, considero a independência da minha e da sua nação, o dia 02 de julho.

Ademais, nunca me inebriei com este chauvinismo travestido de patriotismo.

Um monte de teleguiado que se considera amor a pátria, aos seus iguais, ser um agente de mudança e realização pelo simples fato de se vestir igual um canarinho pistola.

O papagaio que coloca a camisa da CBF, se empiriquita de verde, amarelo da unha até a última ponta de cabelo…

Infla o peito e canta o hino nacional a plenos pulmões sem entender bulhufas do que fala/tratas!

Repete à exaustão lemas militares bélicos contra um inimigo imaginário que a seita radical incutiu na mente deles.

Zumbis coloridos marchando em bloco no exército dos mortos vivos.

Representados por um ser abjeto, salvador da pátria, que movimenta a massa e desperta todo o clamor nacional gritando: imbrochável e termos chulos afins.

Vejam bem, não me acusem de uma suposta insensibilidade identitária.

Naturalmente, sou brasileiro, talvez bem mais do que estes farsantes vazios.

Pelo simples fato de que meus elementos de ligação estão na raiz.

Me emociono com hino nacional e cores nossas no esporte, símbolos culturais, costumes e qualquer trivialidade, mas não me reduzam a um ser robotizado que atende a comandos mecânicos.

Isso tudo sem falar na fixação civil por uma imponência militar, cidadãos embevecidos por uma narrativa fictícia de feitos épicos e glórias de uma Forças Armadas que matou mais brasileiros do que estrangeiros

Um militarismo que, via de regra, sempre esteve presente em momentos obscuros e tenebrosas transações nacionais.

Uma casta de oficiais, generais de 4 estrelas atrás das mesas, privilegiados com benesses e vida nababesca,  sempre se arvorando e sentindo donos da nação.

Pode até ter amenizado, suavizado estas associações de tantos símbolos nacionais com estes pretensos “brasileiros mais brasileiros”.

Mas, no fundo permanecem lá as referenciações.

É bom poder desmontar o circo em que tais manifestações haviam se transformado nos últimos tempos.

Pelo menos no caráter oficial, programação protocolar presidencial, nos livramos disso.

Mas, eles nunca perdem uma oportunidade de hipnotizar os órfãos de idéias e criar a tal catarse ufanista.

Que o diga São Paulo hoje a tarde. Aguardem o palanque.

Em linhas gerais o Desfile da Independência ainda é uma arena para esses seres humanos apresentarem toda a sua patologia.

Até pode ter amenizado tais sintomas, mas neste bloco de sete de setembro eu ainda não desfilo.

Marcos Thomaz    

*Este espaço é opinativo. As ideias e conceitos neles contidos não representam o pensamento e linha editorial do site, mas refletem a opinião pessoal do autor

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