Mas, afinal o que é Rock´n Roll? – Como não fazer um Festival de Rock

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Foto: Cartaz Jampa Rock

Este final de semana teve o anunciado maior festival de rock da Paraíba!

Digo a-nun-ci-a-do porque interpretação é subjetiva e medição de valor cabe a cada um.

Nem entro no mérito da classificação ROCK.

O Tempo não para

Afinal, faz tempo que o Rock foi relegado pela indústria cultural ao segundo escalão enquanto som, estilo, mas sempre apropriado, sugado como referência, influência.

Rockêro é cringe, démodé, mas utilizar acessórios, estampar a marca ROCK segue em alta, moderno, como “um museu de grandes novidades”.

Nem me espanto se daqui a uns dias vermos a tradicional “vaquejada” de Barretos incorporando o termo: Festa do Peão Rockero de Barretos.

-É Rodeio. Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos é rodeio.- alerta o gado.

Ah, no Nordeste sentou em boi é vaquejada!

Deixando de arrudeio e voltando ao Jampa Rock Festival…

Aquela curadoria preguiçosa e acomodada.

Quem faz os grandes eventos de “rock” da cidade tem um incrível catálogo de quatro, cinco nomes de artistas.

Quem adivinha?

Capital Inicial, Nando Reis e Biquini (agora sem o Cavadão- talvez a única novidade em três décadas, junto a pegajosa música Janaína, que “acorda todo dia às 09 e meia”)

Tudo bem, desta feita, surpreendentemente, ficaram de fora  Jota Quest, Humberto Gessinger.

Depois da última noite de festa”

Mas, atenção tem novidade inédita aportando por João Pessoa: Nenhum de Nós.

A atração de estréia da hora é também uma grande banda do Brock com 35 anos de estrada.

Nem venham me acusar de etarismo cultural.

É exatamente o inverso.

Sou quase desta geração. Cresci e me inseri no estilo com o rock brazuca dos anos 80.

Já vi todas estas bandas, consumi cada qual em proporção, em seus melhores momentos, tenho profundo respeito pela relevância etc e tal.

Mas, como diz o matuto: “vamo vareá, né?”.

-E quem vai pagar as contas. Quem vai arrastar multidão ao evento?

O velho álibi de justificar o comodismo conceitual com a velha: “É isso que o povo quer”.

Ok, ok. Naturalmente precisa-se dos arrastadores de público, “nomes de peso”, mas ter um evento que carrega pecha de Festival de Rock sem apresentar nada de novo?

Ou mais, o tal “novo” ser o Nenhum de Nós, fora do catálogo histórico de atrações do gênero em João Pessoa é de arrepiar o moicano de qualquer punk, mesmo os de butique!

Qual a banda nova, fora do mainstream , ou deste parque fóssil de dinossauros do rock nacional enxertada no evento?

Pior, qual a atração local convidada, com palco aberto para apresentar seu trabalho a um público de massa como o do Jampa Rock?

O espaço nativo foi cedido a Black Machine, aquela banda “residente” destes eventos do gênero na capital.

Mais do mesmo

Coube a Black Machine, como é de praxe, fazer covers das outras clássicas do BRock que não estavam no line-up.

A cada intervalo lá vinham acordes de Legião, Barão, Lulu Santos e por aí vai.

Com todo respeito ao trabalho dos rapazes, mas já basta o espaço nas casas e shows de calendário normal, né?

Aos organizadores deste e de outros eventos do gênero na capital uma dica para sair da zona de conforto e promover um evento com algum legado à cultura local, além de mero revival:

Observe o que acontece na cena da cidade e leve aos badalados palcos, duas, três bandas autorais.

Há mais do que ecos de outros antigos e forasteiros sons reverberando por aqui.

Fora isso, não é Festival, é apenas uma “festa estranha, com gente esquisita”, como diria o poeta Renato Russo.

Marcos Thomaz    

*Este espaço é opinativo. As ideias e conceitos neles contidos não representam o pensamento e linha editorial do site, mas refletem a opinião pessoal do autor

 

7 COMMENTS

  1. Olá Marcos Tomaz.
    Como estamos numa democracia e a imprensa é livre, respeito demais sua opinião.

    A questão é que o evento Jampa Rock Festival ele foi mesmo para o público que curte, para os fãs dessas bandas as quais você denigre mas que são as que estão aí sobrevivendo a concorrência de outros estilos. Ao contrário do que vc expressa, são bandas com 40 anos de história (ainda quer mais?), e a Black Machine (assim como tantas outras da cidade) inicia sua caminhada tocando covers, assim como fizeram Beatles, Roberto, Erasmo. Cara, tira esse ódio do coração, só porque você não aprecia ou porque não foi convidado.

    9 mil pessoas no mínimo também discordam de você, deixa elas serem felizes, vai quem quer, quem gosta ninguém é obrigado a nada.

    Foram 500 empregos gerados diretos (fora os indiretos), 2 toneladas de alimentos foram doadas e já estão chegando a casa de quem precisa…

    Vida Longa ao Rock Nacional e a Democracia!

    • Parabéns, meu caro. Pelos números, sucesso do evento etc. Não questionei efeitos econômicos, quiçá relevância do Brock. Se observar com um pouquinho mais de astúcia verás que admito, inclusive, ser egresso desta cena. Não sei, mas aparentas ser da organização. Espero que se assim o for consiga captar a relevância de usar uma arena desta envergadura e dimensão para gerar algum legado CULTURAL a cena local, além de reverência a consagrados. É apenas e fundamentalmente sobre isso que falo. Há muita banda nova produzindo música autoral de qualidade, precisando de espaço como o que o evento proporcionou. Assim como estas bandas, há quase 40 anos precisaram e tiveram. Sobre a Black Machine, repito, não tenho nada contra o trabalho dos rapazes, ou qualquer banda cover (tranquilo e tem espaço pra tudo). Agora citar Roberto e Erasmo como referências a Black MAchine? Os caras tem mais de década na mesma pegada e repito, está tudo bem! É a proposta deles. Pense na sustentabilidade do que propões. Estas bandas farão 50, 60 e deixarão de existir, naturalmente. o Novo sempre precisa vir e isso pode ser fomentado em eventos desta envergadura.

  2. Tô vendo que de Rock Nacional vc não entende !!
    Mas vai quem quer e por sinal vc não estava lá com certeza , viu a multidão? Que curtiu?
    Que matéria ESTRANHA essa !!
    Black Machine pelo menos não toca em shopping!!!

    • Olá conhecedor de Brock. Eu vi a multidão. O que isso tem a ver com o texto? Qual informação equivocada ali sobre rock nacional? Black MAchine não toca em shopping? Onde fica a Domus Hall, residência oficial deles?

  3. Primeiramente, parabenizo o colega servidor público, Marcos Thomaz, pela dedicação aos músicos locais através do projeto “Palco Tabajara” na rádio pública. Esse é exatamente o tipo de iniciativa que se espera de uma instituição estatal desse segmento: promover novos talentos e oferecer oportunidades para artistas emergentes, utilizando recursos públicos. Afinal, essa é uma das obrigações do Estado como parte do pacto social: financiar a cultura e permitir que ela prospere sem se preocupar com o lucro.

    No entanto, o colega está fazendo uma confusão sobre as responsabilidades do setor privado em relação à promoção da cultura. Ao criticar um evento de música, organizado inteiramente por uma empresa privada, não se pode perder de vista que se trata de um negócio e que precisa ser economicamente viável. Enquanto o Estado tem o dever de promover e incentivar a cultura sem qualquer finalidade econômica direta, uma empresa privada funciona sob uma lógica completamente inversa.

    É dever funcional de qualquer servidor público, (e dever intelectual de qualquer jornalista, ainda que em artigo opinativo), ter uma clara compreensão sobre as funções do Estado e saber distingui-las da atividade empresarial. Afinal, essa concepção a gente aprendeu lá no início, quando estudou para o concurso. Você é concursado, não é? Pois é, Teoria Geral do Estado integra o conteúdo programático de qualquer edital de concurso público, dos cargos de ensino fundamental até aqueles que exigem nível superior completo.

    Também é básico saber que, quando uma empresa privada produz bens e serviços, ela está investindo seu próprio capital e precisa garantir que seu produto seja financeiramente sustentável. Trazendo essa realidade para o contexto do festival criticado no seu artigo, a escolha de bandas consagradas certamente se é estratégia para atrair um público maior e assegurar que os ingressos vendidos cubram os custos e, idealmente, gerem lucro. Desdenhar disso, como você fez beira Além disso, a escolha das bandas depende de vários fatores, como disponibilidade na agenda, valor do cachê e até mesmo preferências pessoais dos artistas, que podem optar por não participar de eventos com um formato de festival, que têm um line-up extenso. São idiossincrasias que, muitas vezes, nossa visão de servidor público não alcança. E, diferentemente do seu projeto cultural na Rádio Tabajara, que sobrevive e se mantém com ou sem retorno financeiro, com ou sem público, os eventos privados não podem operar no vermelho.

    É sempre bom lembrar: se a empresa não lucra, ela não sobrevive. E se não sobrevive, não arrecada impostos. E sem esses impostos, você não consegue financiar a revolução da cena musical local. Então, até para que o Estado possa cumprir sua função constitucional de promover a cultura, a iniciativa privada precisa estar funcionando bem, gerando empregos, movimentando a economia e pagando impostos. Não há “zona de conforto” nisso. Deixemos esse arrojo cultural para quem desfruta da certeza de seu salário na conta todo fim de mês, como eu e você que, claro, optamos por estudar para conquistar essa condição, que, todavia, não nos confere a cegueira de colocar tudo no mesmo balaio.

    Então, contratar “mais do mesmo” não é comodismo conceitual.É a necessidade de evitar riscos, é apostar nas receitas que já funcionam. Entenda que o setor privado não pode errar; ao contrário, precisa acertar para que você possa ousar (e até errar) na sua zona de conforto. O setor privado na maioria das vezes não pode se dar ao luxo de promover palco aberto com banda autoral. Se pudesse, as leis de incentivo à cultura não seriam necessárias.

    Além disso, não é papel da empresa privada deixar um “legado cultural” para ninguém. Claro, a empresa até pode promover novos talentos ou apoiar a cultura local, e isso seria uma iniciativa louvável. Mas vamos deixar claro: não é uma obrigação do empresário. A função principal de uma empresa privada é manter-se viável, pagar seus impostos e seus funcionários e continuar operando. O resto do que você sugeriu, ela faz se quiser.

    Então, vamos deixar cada um cumprir sua função: a rádio pública promovendo talentos locais com dinheiro público, e as empresas privadas fazendo eventos rentáveis e atraentes para quem curte o line-up mais tradicional.

    Quanto à opinião de que o evento não faz jus ao título de festival, ou que trouxe atrações que não lhe agradaram, como toda opinião, é totalmente legítima! Mas legitimidade não significa necessariamente relevância. Nesse contexto, dica boa é dica do contador da produtora do “festão”, pois ele é quem sabe dos custos de um evento dessa magnitude e o que precisa ser feito para a conta fechar.

    Por fim, sobre a “festa estranha com gente esquisita”, ironicamente, essa expressão descreve bem mais os eventos de música autoral da cidade com seu cenário underground (que eu adoro), do que a caretice conservadora do mainstream. Mas entendo que você viu no do verso de ‘Eduardo e Monica’ uma sacada semântica incrível e precisava encaixar de qualquer jeito no seu artigo. Mas acabou sendo tão intelectualmente falha, quanto à crítica feita ao evento privado que não contratou as bandas de sua preferência pessoal, nem ousou promover a revolução cultural que você gostaria.

    Abraços.

    • Cara Candice, obrigado por dispor seu tempo para aplicar teoria da comunicação e tentar dar roupagem científica a um simples artigo de opinião. Sim, opinião. Vi que, inclusive tentou revisitar meu currículo e atuação. Passou perto da completude, mas ele, a função enquanto servidor público concursado, nada tem a ver com o diletantismo com que faço, livremente crônicas, análises e observações do dia a dia e afins. Não tratei sobre obrigações de empresário, menos ainda desprezei questões econômicas básicas, triviais para sustentabilidade da empreitada, ao contrário, está tudo lá bem registrado. Não sei se és agente cultural, ou da comunicação (como fazes questão de demonstrar no repertório conceitual acadêmico). Fato é que interpretou pouco, ou apenas passionalizou uma constatação óbvia que está no cerne do texto/pensamento: a total falta de criatividade da curadoria em fazer um evento de apelo com toques locais, próprios. É bem mais simples do que o “mais do mesmo”, como defines tecnicamente a tal “semântica incrível”. No mais, se entendes que uma, duas atrações locais AUTORAIS em meio a figurões reconhecidos com justiça pelo que fizeram a música nacional, jogariam por terra o interesse do pessoense, você despreza muito a capacidade e identificação do público daqui. É apenas sobre isso, uma adequação, ampliação da proposta, que repito, o que disse na resposta acima e obviamente, é muito útil economicamente, mas a minha análise é pautada em cultura mesmo. E, sim penso diferente de você, em se tratando de manifestações culturais, esportivas e afins, legado, sustentabilidade, além das contas, é vetor muito importante para qualquer evento, seja ele público, ou privado. Isto, inclusive é vetor econômico que reposiciona empresas, marcas no mercado, bolsa e afins. Encarem críticas como possibilidades de recondução, reconstrução, realinhamento. Elas fazem bem e podem ajudar o que já é fadado a ter êxito no objetivo principal.

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