“E o Sílvio Santos!?!? É coisa nossa!!! Mas que vai, vai, mas que vai vem…”
Partiu o homem que, NO AR, ao vivo, entrava em guarda-roupa para vender móvel, pulava de terno em banheira com água, era regido por criança serelepe no palco e foi “freqüentador” de casas brasileiras de diversas gerações por décadas.
Nem tente disfarçar, negar.
Sílvio Santos passou por sua residência, seja ela humilde, ou não, algumas muitas vezes.
Quiçá tente reduzir a audiência aquele perfil caricato de senhoras esparramadas em seus sofás, cadeiras de balanço, “na sala de jantar ocupadas em nascer e morrer”.
E eu nunca estive dentre os adeptos de Sílvio e seus asseclas.
Jamais tive esperança na tal porta, não via roletrando (lá ele), nunca fui calouro (“Pedro de Lara Lá, Laralalalala”).
Mas, ninguém escapava aos símbolos e referências do homem que incomodava a Globo!
E, em análise nua e crua, esqueçamos Chacrinha, Flávio Cavalcanti, Faustão…
Neste senso comparativo, ignore mesmo youtubers, instagramers, outros influenciadores em geral de eras modernas!
Ninguém, jamais esteve tanto tempo dos almoços aos jantares familiares de domingo fazendo todo tipo de pantomima, em plena rede nacional de TV.
Um fenômeno.
Controverso como a própria condição humana, questionável como todo bilionário, poderoso, detentor de um conglomerado, de comunicação então…
A opulência, império formado talvez seja a linha de corte entre os amantes, admiradores e detratores, desafetos.
De um lado a patrulha militante de esquerda reduzindo o senhor Abravanel a um patrão explorador, no meio a academia, pensamento Cult demonizando a linguagem silviosantista, no outro extremo a sociedade canonizadora nacional santificando e pintando de nobre tudo o que o homem tocou.
O que faria Sílvio Santos com tantas e diferentes visões sobre ele próprio?
Bateria no liquidificador e criaria um programa de variedades tão exótico quanto estas idéias juntas parecem ser!
O cafona no ar!
Aquele caldeirão grosseiro, na maior parte ordinário mesmo, vibrante e desincronizado som e luz, mas a cara do Brasil (goste eu, você, ou não).
De ambulante a fundador da TVS, com “S” de Silvio e de Santos mesmo.
Aquela emissora que na década de 80 se orgulhava de ser “segundo lugar DISPARADO em audiência.
Com o SBT pôs em prática o que tinha de melhor e pior.
Sua aguçada percepção sobre a natureza do brasileiro e sua total vocação a ser “audiência”.
Ofertou o seu pão e circo midiático com toda dose de irreverência, espontaneidade, pitadas de lascívia e claro, a breguice tão nossa.
Excesso de cores, desordem planejada, programas popularescos, toscos, quase todos toscos.
Era Sílvio quem mandava alterar programação a seu belprazer.
Aliás, despudoradamente, refazia grade de programas de acordo com a escala da emissora rival, vizinha, ao lado, o que fosse.
Do luxo ao lixo?!?
O mesmo Sílvio que abrigou o primeiro talk show brasileiro, a tal classificação de público classe A, com o intelectual Jô, foi o que deu a “Loira do Tchan”, Carla Perez, um espaço diário com o infantiloide Fantasia…
O mesmo SS que abrigou, expandiu e deu, em determinado momento o maior salário da TV brasileira a Ratinho, foi o que inovou ao ter Miele em programa diário.
Aquele que deu vida ao senhor Gugu Liberato e sua exacerbada objetificação feminina de banheiras e afins, foi o propulsor de um modelo de programa consciente e libertário jovem, “Programa Livre”.
Portanto, amigos, de que lado estiver (“Vai pra lá”, diria o Sílvio), guarde sua palmatória do mundo, ou me poupe de seu floreio sacralizante sobre Sílvio Santos.
A única coisa que não dá é para inaugurar a representatividade, relevância e feitos da vida e obra do senhor Abravanel, de ambulante a comunicador de massa.
Marcos Thomaz
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