Eleições na Venezuela expõem o espírito democrático de ocasião na Direita e na Esquerda

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Divulgação resultado eleição Venezuela. Foto: Agência Brasil

Era domingo de eleição, digo de Olímpiadas. De Olimpíadas e eleição.

Tudo junto e misturado. Ou, mesmo separado.

Só sei que era.

O casal de vizinhos venezuelanos chamava a atenção por um modelo igual de camisas.

Estavam na garagem, distantes alguns metros, o suficiente para não conseguir ler a inscrição, mas perceber o vino tinto intenso que brilhava da vestimenta.

Ao primeiro olhar pensei tratar-se de um uniforme esportivo em homenagem a algum ídolo do país, em segundo talvez uma camisa de ação evangélica (mais almas resgatadas para a salvação em solo nacional).

Não se falava de outro assunto…

Logo, o dial do rádio informava sobre a expectativa global pelo resultado da eleição na República Bolivariana e me reestabelecia a sincronicidade dos fatos.

Era uma camisa contra o regime Chavista de Maduro.

Os vizinhos são uns dentre os mais de meio milhão de venezuelanos em solo brasileiro.

Claro, quase a totalidade, ou absolutamente,  todos refugiados contrários ao Regime que perdura no país sulamericano há 25 anos, entre Chávez e Maduro.

Natural, foi de lá que fugiram.

Mas, não é só no Brasil adotivo, ou outros centros receptores de venezuelanos que a eleição do país vizinho despertava interesse.

O mundo voltou o olhar à tensa disputa eleitoral.

E aqui nem quero, menos ainda tenho embasamento para entrar em pormenor de motivação, causa e culpados únicos, ou gerais da situação venezuelana

Ditadura chavista, controle absoluto de meios de comunicação e poderes, golpe constitucional, sanção econômica americana, ganância internacional sobre uma das maiores reservas de petróleo do mundo…

A coisa é mais, muito mais complexa do que a sua, minha vã filosofia.

Falta de Transparência

A única coisa que não dá para relativizar é a clara, latente irregularidade deste processo eleitoral na Venezuela.

Um resultado sem qualquer comprovação, com dados escondidos, nenhum boletim de urna apresentado e simples aclamação de Maduro, empurrado goela abaixo.

 

O prazo de 72 horas para apresentação da totalização dos votos esgota-se nesta quarta-feira e nada foi divulgado até então.

Durante a eleição, do lado brasileiro, venezuelanos impedidos de entrar no país de origem por bloqueios estratégicos montados por Maduro nas fronteiras entre os países.

Qualquer semelhança com o aparelhamento bolsonarista da PRF para dificultar, ou mesmo evitar acesso de nordestinos as seções eleitorais, não é mera coincidência.

Institucionalmente, o Brasil fez o que se espera, em termos diplomáticos  de uma nação responsável e que respeita a soberania entre nações.

Muito mais respeitável que o Bolsonaro e seu governo, último a reconhecer resultado da eleição americana, por exemplo.

Mais que isso, aquele ex-presidente que deixou o governo questionando, sem aceitar vitória de presidente diplomado lá nos EUA.

Voltando ao tempo de agora…

Como observador e um dos países líderes do Hemisfério Sul o Brasil, oficialmente, cobrou transparência e não tomou lado oficial na disputa, enquanto aguarda desdobramento dos fatos.

Tudo dentro do esperado até o presidente Lula não se conter em abundante espírito petista e reduzir a questão a uma simples “divergência” entre oposição e situação lá:

-quem estiver insatisfeito com o resultado procure a Justiça lá e o que ela decidir está decidido.

Ora, falou Lula sobre um país do qual se desconfia, exatamente, do controle chavista sobre esta e outra qualquer instância de poder do país Bolivariano.

Jogos Vorazes

Tudo isso após mais uma postura apócrifa do Partido dos Trabalhadores, reconhecendo a vitória de Maduro como legítima.

Aquela coisa de: ele é meu amigo!

Fora o PT quem mais fez isso?

A Rússia, a China, a Nicarágua

Isto muito diz.

Ah, claro, do outro lado, os oportunistas de plantão já correram a anunciar a vitória do opositor Edmundo Gonzaléz.

Peru, Argentina e outros hermanos.

Aí também não.

Essa movimentação no tabuleiro venezuelano e mundial lembra mais Jogos Vorazes que Jogos Olímpicos:

Que comecem os jogos – grita o boneco maligno da franquia.

Fato é que o gesto da oposição remete aquele aventureiro incendiário, Juan Guaidó, auto-declarado presidente da Venezuela, em um dia que “deu na telha” brincar de líder, há cinco anos.

À época, Guaidó foi apoiado por alguns países e líderes nacionais diversos, tal qual a declaração de vitória da oposição agora.

Noves fora patifaria de todo lado, mais que o povo venezuelano, a América do Sul e o mundo tensionam com mais um atentado democrático exposto às vísceras.

Não existe complascência com tirania, seja ela de esquerda, ou direita.

O PT minimizar os absurdos antidemocráticos do “chavismo” na Venezuela é referendar a arbitrariedade golpista do bolsonarismo nas eleições e além do Brasil.

Marcos Thomaz

*Este espaço é opinativo. As ideias e conceitos neles contidos não representam o pensamento e linha editorial do site, mas refletem a opinião pessoal do autor

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