Pela janela ouvia o popstar sertanejo conversar impropérios com sua platéia cara e bregamente luxuosa.
“Paetês”, me lembrava sorrindo, sarcasticamente, Roberta, em piada interna.
A memória relembrava os trajes brilhosos, pomposos e firulentos do público que cruzava conosco voltando cheios de areia e trajes de banho.
Para nós era fim de tarde praiano, para os fãs de Gustavo Lima era sunset, com o ansiado show Paraíso Tropical, aqui em Cabedelo, na Grande João Pessoa.
Entre hits que todos conhecemos por osmose um diálogo em especial me chamou a atenção:
– Quando eu fiz implante capilar me perguntaram se era difícil. Eu disse que a primeira vez é igual a tirar cabaço de menina nova.
Risadarias, ovações, apupos (incluindo vozes femininas em êxtase) e até aquela gaitada cearense no meio (Ieeeeeeeeiiiii).
Eu poderia ficar surpreso apenas com o fato do bonitão ter feito implante capilar (fez até de barba a pesquisa me indicaria depois)…
Mas o impressionante mesmo é como o sexismo está entranhado nesta cultura!
É uma idiotização permanente da sexualidade feminina!
Aquelas piadas de tiozão que ainda ecoam.
E olha que eu, como bom baiano, adoro a eterna quinta série libertina mas, por que não fazem piada com a própria e frágil sexualidade?
Esses menininhos carentes precisam colocar a mulher, via de regra objetificada, para elevar a própria debilitada autoestima!?!
Tudo bem que é bem sintomático e característico deste ambiente, estilo musical esta coisa da mulher-coisa.
Mas, nem me venham os elitistas culturais, cools, hypes reduzirem o fenômeno aos sertanejos e afins…
O festival alternativo mais gourmetizado do Brasil, Lollapalloza, também foi palco de manifestação sexista explícita neste mesmo final de semana.
O espaço da sustentabilidade, da liberdade sexual como casa do discurso mais canalha.
A dupla de frente da eterna banda teen, Blink 182, carregou a tinta na misoginia e machismo.
O guitarrista e baixista se revezaram em discursos que, por exemplo associavam a excitação da mulher brasileira ao piso molhado do palco sob a tempestade paulistana.
Tudo isso embalado por um sonzinho de meninos de 15 anos que estão com quase 50, sendo acompanhado em uníssono por outros ex-adolescentes, talvez agora vovôs.
Um estranho passar do tempo.
E nada de etarismo ou jovencentrismo aqui, mas além do anacronismo, da falta de encaixe com os novos tempos, esta postura é muito, demais infante, imbecil, de fato.
E eu que achava que o ápice do “passamento” no rock era Dinho Ouro Preto e Capital Inicial preso nos anos 80, como um eterno Balão Mágico!
Marcos Thomaz
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