Campina Grande carrega superlativo já no nome, não por acaso!
Grande, imponente, orgulhosa de si…
É lá também que se enche o peito para afirmar “Maior São João do Mundo”.
Lembro quando estive na cidade pela primeira vez, recém chegado a Paraíba!
Impressionava a pujança, dimensão, beleza urbanística daquela cidade do interior paraibano.
Uma verdadeira capital extraoficial, porta de acesso ao sertão, sede simbólica e centro comercial regional.
Ali também está fixada a maior rivalidade interiorana do futebol nordestino, uma das maiores do Brasil.
Campina, Grande e pioneira até na tecnologia.
Sede da Universidade com destaque em invenções e patentes nacional…
Lá também foi instalado o primeiro computador do Norte-Nordeste, na distante década de 60 do século passado, enquanto o maior ritmista da Borborema, quiçá do universo, ainda apresentava o pandeiro ao mundo.
Be-Bop pra lá, Bip pra cá, a vanguarda campinense hoje é apenas um eco do passado!
Esta mesma, outrora moderna e progressista, Campina Grande veio eleger um parlamentar negro (no caso uma estoica senhora) apenas na última eleição municipal, em 2020.
Vejam vocês, após mais de século de República, com mais de 150 anos de vida, a cidade possibilitou alguma representação negra na Câmara Municipal local.
Jô Vital o nome da responsável pelo feito. Procurem saber.
Portanto, agora, o verdadeiro sentimento conservador, retrógrado da sociedade da Rainha da Borborema escancarou-se de vez.
A cidade resolveu “sepultar o carnaval”.
Em uma canetada o prefeito, Bruno Cunha Lima, baixou decreto proibindo circulação de blocos por, praticamente toda a cidade, dentro e fora do período carnavalesco.
A alegação explícita era preservar os eventos ecumênicos que se proliferam na cidade ano após ano.
Contudo, um parêntese aqui para tratar da relevância simbólica, cultural e econômica das manifestações religiosas na cidade.
Que façam, se espalhem, cresçam, atraiam turistas, fiéis, convertam pessoas e resgatem almas perdidas, o que for…
Mas, deter a exclusividade das ruas em uma época que faz parte do calendário festivo brasileiro e em uma cidade que tem os seus tradicionais blocos existentes há mais de décadas, legitimados no imaginário do povo?!?!
Porém, quando se pensa que o absurdo de totalitarismo de fé chegou ao ápice, “senta que lá vem madeira”, grita o poeta baiano…
Os blocos campinenses vão abrir alas para a avenida ser ocupada, por exemplo, por figuras como o pastor americano, Douglas Wilson, um manifesto defensor da escravidão.
O controverso (para ser sutil) líder evangélico é uma das grandes atrações da “Consciência Cristã”.
Vem ao Brasil, país que mais escravizou negros e mais demorou a libertá-los, apresentar seus livros que falam de “benefícios históricos” desta chaga humana.
Alinhamento com ideias supremacistas
O cidadão se alinha, claramente com a ideia de supremacismo branco, chegou a comparar o movimento “Vidas Negras Importam” (Black Lives Matter) a Ku Klux Klan!?!
Além disso, é um dos “cabeças” intelectuais deste aberrante e perigoso conceito de Nacionalismo Cristão!
Uma bandeira gourmetizada do que, na prática é a tentativa de espalhar um Evangequistão mundo afora, uma apropriação ignóbil e impostora da Bíblia a serviço de autoritarismo e intolerância.
Tem gente que considera a proposta campinense uma resposta sacra ao profanismo do carnaval, eu vejo Sodoma e Gomorra parecerem festas infantis a esta orgia que estão oferecendo no carnaval da Borborema!
Deus tenha piedade de Campina.
Marcos Thomaz
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Foto: Cácio Murilo/MTur