No dia 15 de novembro de 1889, o Brasil deixou de ser uma monarquia e se tornou uma república. Esse acontecimento histórico virou até feriado nacional. Contudo, você sabe o que realmente aconteceu naquele dia? Será que a Proclamação da República foi um movimento popular, democrático e pacífico, como nos livros escolares? Vamos analisar os fatos e desvendar algumas mentiras sobre esse episódio.
A Proclamação da República foi um movimento popular
Um dos mitos mais difundidos sobre a Proclamação da República é de que ela foi fruto de uma ampla participação popular, que desejava o fim da monarquia e a instauração de um regime mais moderno e representativo. No entanto, a verdade é que a proclamação foi um golpe de estado planejado e executado por um grupo restrito de lideranças econômicas, militares e religiosas, que tinham interesses próprios e conflitantes com o imperador D. Pedro II.
Os militares, por exemplo, estavam insatisfeitos com o tratamento dispensado pelo imperador. Ele não reconhecia o seu papel na Guerra do Paraguai e não atendia às suas reivindicações por melhores salários e condições de trabalho. Os religiosos, por sua vez, se opunham à política de separação entre Igreja e Estado. Isso reduziu o seu poder e influência na sociedade. Já as elites agrárias, que dependiam da mão de obra escrava, se sentiram prejudicadas com a abolição da escravidão. Ao mesmo tempo, todas as classes da sociedade tinham alguma crítica com o atual governo.
Esses grupos se uniram para derrubar o imperador e proclamar a república, sem consultar ou envolver o povo brasileiro, que na época era formado majoritariamente por analfabetos, ex-escravos e imigrantes, que não tinham direito ao voto nem voz política. “A participação do povo é um mito, pois esse envolvimento é considerado apenas em casos de plebiscito, movimentos populares ou voto, e nenhum desses ocorreu”, aponta Ivo Erthal, especialista em Gestão de Teorias Educacionais e coordenador pedagógico da Conquista Solução Educacional.
A Proclamação da República foi um movimento antiabolicionista
Outro mito que envolve a Proclamação da República é de que ela foi um movimento que defendia o fim da escravidão no Brasil. No entanto, a verdade é que a proclamação foi um movimento que se opunha à abolição da escravidão, que ocorreu um ano antes, em 13 de maio de 1888.
A abolição da escravidão foi um dos principais fatores que desencadearam a crise do regime monárquico. Ao princípio, afetou diretamente os interesses das elites agrárias, que eram a base de sustentação do império. Essas elites se sentiram traídas pelo imperador, que não ofereceu nenhuma compensação financeira ou alternativa de mão de obra para os fazendeiros que perderam seus escravos. Além disso, a abolição da escravidão também gerou uma série de problemas sociais, como o aumento da pobreza, da violência e do racismo contra os negros libertos, que não tiveram acesso à educação, à terra ou ao trabalho digno.
“A história mostra o mito de que a Proclamação da República foi um movimento antiabolicionista, mas na realidade era exatamente o contrário”, revela Erthal. Ele explica que, para as elites, a república era uma forma de recuperar o controle sobre a economia e a sociedade, que haviam sido abalados pela abolição da escravidão. Por isso, a república não significou nenhuma melhoria para os negros, que continuaram sendo marginalizados e discriminados pelo Estado e pela sociedade.
Mito 3: A Proclamação da República foi um acontecimento pacífico
Um dos mitos mais enganosos sobre a Proclamação da República é de que ela foi um acontecimento pacífico e bem aceito pela população brasileira, que rapidamente se adaptou ao novo regime. No entanto, a verdade é que a proclamação foi um acontecimento violento e controverso, que gerou uma série de conflitos e rebeliões nos anos seguintes.
A proclamação foi feita às pressas, sem nenhum planejamento ou preparação prévia. Isso tudo resultou em uma série de problemas políticos, econômicos e sociais. O novo regime não tinha um projeto claro de nação. Até a falta de uma constituição, uma forma de representação popular. Além disso, o novo regime enfrentou a resistência de vários setores da sociedade, que não concordavam com a mudança abrupta e autoritária de regime.
Erthal conta que um dos maiores equívocos que envolvem a Proclamação da República é de que foi um acontecimento pacífico e bem aceito pela população brasileira. “Nos dez anos que seguiram à proclamação, houve registros de fortes movimentos de rebelião e conflitos armados, como a Revolta da Armada, a Revolução Federalista e a Guerra de Canudos”, lembra o historiador. Esses movimentos expressavam as insatisfações e as demandas de diferentes grupos sociais, que se sentiam excluídos ou oprimidos pelo novo regime.
Conclusão
A Proclamação da República Brasileira de 1889 foi um acontecimento histórico de grande importância. Isso tudo porque marcou o fim do regime monárquico no país. No entanto, esse acontecimento não foi tão simples e glorioso como nos contaram. Por trás da proclamação, há uma série de mentiras e verdades. E precisamos entender como tudo aconteceu para compreender o nosso passado e o nosso presente.